Instrutor de Informática, um relato da minha experiência e carreira

Leitura de 8 minutos

Quando um série de eventos começam a completar uma década percebe-se que o tempo está passando. E como a memória é seletiva, passível de falhas, aproveito para deixar registrado o começo e um pouco desses mais de 5 anos que atuei como instrutor de informática.

Vou manter este post atualizado, conforme receber comentários e dúvidas. Chega de enrolação e vamos ao post.

A vida é feita de escolhas. Uma simples frase como essa diz muito e no cotidiano desmerecemos sua importância sem prestar atenção das nossas decisões. No fim de Julho de 2006, durante o ensino médio e cursando os últimos módulos do curso de web design, recebi o convite da minha instrutora Bruna Mahama, para fazer parte do corpo docente da SOS Computadores. Entre a saída do coordenador e uma crise financeira da escola, minha contratação como instrutor foi mais simples que imaginava.

No inicio trabalhava somente às sextas-feiras. Vestindo o jaleco com o logotipo bordado e cheio de vontade auxiliava os alunos nos exercícios aplicados por outros instrutores. Sempre idealizando quando e como iniciaria minha própria turma. Então, iniciei de fato como instrutor de informática e ao começar com aulas individuais e notar que ministrar as próprias aulas eram infinitamente mais simples que distribuir a atenção entre as dúvidas dos mais diversos alunos e cursos durantes os treinos as sextas-feiras.

O ano era 2007 e a informática mostrou que tinha chegado para ficar. Para os alunos as opções não eram muitas, aprender ou aprender. Durante todo o tempo que atuei como instrutor de informática a procura pelos cursos iniciais nunca tinha sido tão expressiva, ao ponto de ter três professores com o mesmo curso simultâneo (em uma escola que tinha 5 salas).

Cada novo aluno sempre provocava novas expectativas. Os VIPs, como eram chamadas as aulas individuais, me permitiram aprender muito. Aos 17 anos, ser instrutor de pessoas experientes com o dobro da minha idade era um tanto estranho. Recordo de um dia ficar surpreso e surpreender um aluno de Excel que questionou a vendedora se eu era de fato professor ao me ver pela primeira vez, e ao fim da primeira aula ter este pré-conceito mudado.

Minhas turmas: instrutor de informática à vera

O desejo de todo instrutor de informática, um prédio moderno e projetado para ser uma escola modelo.
SOS Computadores Mooca, o prédio modelo.

Apesar de diversos alunos individuais, a sensação de ser instrutor de informática somente realiza quando estamos a frente da primeira turma. As primeiras turmas começaram pelo curso básico de informática, nos módulos  de Windows e Office, ensinando desde como ligar um computador, digitar o primeiro texto no Word, a temer as formulas das planilhas do Excel, e sem desmerecer o meu tão querido Access e seus bancos de dados que foram fundamentais para meu conhecimento, e me levaram ao desenvolvimento web, e para a grande maioria dos alunos sempre foi completamente irrelevante e desconexo com a realidade.

Aprendizado é mais que conhecimento. As conhecidas turmas da melhor idade, essas tinham mais a ensinar do que aprender, sem sombra de dúvida eram os mais interessados no aprendizado. Não tinham pretensão, não estavam obrigados, simplesmente queriam aprender essa nova linguagem chamada digital. Mas, eram quem mais precisava de atenção e paciência. Habilidade rara nos jovens instrutores.

Treinamento de didática

Depois de mostrar para escola que iria realmente permanecer como instrutor de informática, a escola me enviou para a matriz da SOS Computadores para o treinamento: “Didática – O Diferencial na Educação”.

Durante dois dias, tive uma grande exposição com as orientadoras Sandra Gerrini e Ana Cristina Santos, mostraram uma série de conceitos e práticas para orientar a aprendizagem dos alunos. Em apenas, dois dias já era possível observar como meus próprios professores, ainda no ensino médio, se esqueceram ou não aprenderam bases simples da pedagogia.

Hoje tenho a consciência que a Ana, coordenadora de treinamento, estava avaliando muitos mais que os testes e exercícios que os jovens instrutores respondiam e apresentavam.

Instrutor de Design Gráfico e Web Design

Após 1 ano de trabalho entre alunos individuais e as turmas de informática básica, iniciei a primeira turma do curso de Design Gráfico, ensinando Photoshop, Corel Draw, InDesign, seguindo o curso que se vendia como uma solução absoluta, essa turma continuaria no curso de Web Design,  estudando Fireworks, Flash e Dreamweaver.

Após maturar na escola cheguei ministrar 12 horas de aulas por dia, confesso que alguns momentos não sabia nem qual matéria ou turma que estava dando aula, e precisava colar do monitor dos alunos para lembrar sobre o que estava falando. Chegando a ponto de esquecer que aula estava ministrando, e ser enganado por um aluno que abriu um arquivo de outra turma, e seguir falando de outra aula com os alunos tentando entender do que eu estava falando, até alguém perguntar.

Os cursos de design particularmente era muito mais interessantes, tornou-se objeto de estudos e o foco da carreira como instrutor e atividade profissional.

Temida Prova do CEI – Centro de Especialização de Informática

Esse era o novo nome da avaliação que todo instrutor deveria passar para validar e reciclar os conhecimentos de acordo com os treinamentos, a sua fama se dava porque um professor que fosse reprovado nessa avaliação, poderia ser impedido de ministrar um treinamento como o curso de Design Gráfico, caso fosse reprovado em Photoshop.

Ao invés de uma prova de capacitação, cobrava ferramentas e botões, 20 perguntas avançadas para o nível do curso que era ministrado, mas nada que não pudesse ser respondido em uma hora. E um professor que ministrava aulas nas quatro áreas, informática básica, design gráfico, web design e manutenção de PCs teria que responder pelo menos 20 provas.

Na minha opinião, uma reciclagem regular do treinamento de didática seria muito mais valioso que validar conhecimentos de cada programa, cada ferramenta que se tornariam obsoletas, assim como o Flash da antiga Macromedia.

Instrutor de Informática Avançada – Ensino especializado

Para quem gosta de aprender, trabalhar como instrutor pode ser um grande benefício, principalmente no início da carreira. Tinha acesso as apostilas e softwares e poderia estudar o que tinha vontade.

Na época a SOS Computadores tinham os cursos de informática básica e os pacotes de design gráfico, web design, manutenção de computadores e cursos avançados (Excel e Access). Admito que tive várias oportunidades de estudar Excel Avançado para ministrar aulas formato individual, mas grande parte dos alunos queriam consultores, ou alguém que fizesse o trabalho por ele, e não professores.

Sempre vale lembrar que softwares são ferramentas. A partir de 2015 iniciei uma graduação em Gestão de Negócios e Inovação pela FATEC Sebrae e posso validar a frase anterior, um curso como Excel Avançado sem conhecimentos de matemática financeira  pode se tornar vazio e ficar preso na própria ferramenta.

Continuando a história, eu decidi me especializar nos cursos de design gráfico e web design, tanto por causa dos alunos possuírem maior fluência da linguagem digital quanto pela remuneração maior.

Instrutor de Informática: Salário

Para profissionais em geral, em especial professores e instrutores falar sobre salário para alguns parece até um tabu.

Como se trata de uma profissão onde a grande maioria das escolas contratam professores muito jovens com pouca ou até mesmo sem nenhuma experiência em geral a remuneração é baixa. Para quem ministrava 8 horas por dia, recebia entre 2 e 3 salários mínimos, dependendo do treinamento e tempo de casa.

Eu sempre atuei como um profissional independente. Desde os primeiros trabalhos, durante as aulas e hoje como consultor de marketing digital. Nas escola, como instrutor de informática freelancer você tem alguns desafios que não ocorrem quando se está registrado, mas como todo desafio ensinam muito.

Como instrutor tinha que equilibrar as aulas para saber quais eu poderia e gostaria de ministrar, além de manter o menor número de intervalos entre as turmas e assim garantir uma remuneração estável. Claro que quando optei pela especialização em design gráfico e design web, o volume de turmas reduziu. E no fim, foi justamente a remuneração que usei como chave decisiva para deixar de atuar como instrutor de informática nesse formato de escola.

Carreira de instrutor, o fim?

E tornando este texto cíclico, como a vida é feita de decisões comecei a pensar sobre o futuro da profissão de instrutor. Para catalisar essa decisão a escola contratou um coordenador pedagógico, moldado nos métodos e falhas do próprio material didático. E como softwares antigos em sistema atualizado sua presença durou pouco. Sua passagem mostrou que o modelo da matriz não tinha relação com o aprender, mas em seguir um fluxo.

Enquanto estava meramente iniciando como instrutor de informática, Steve Jobs trabalhava no lançamento do iPhone. O mundo digital mudou e muda constantemente. Enquanto os instrutores discutiam Windows x Linux nos corredores da escola, hoje o grande público não fala em nenhum dos dois, o negócio é qual o próximo Android ou iPhone, ou melhor o que cada um faz com o seu. Naturalmente a profissão de instrutor de informática não foi e nem será diferente. Se você pensa em ser instrutor de informática ou qualquer área do saber, lembre-se que não são pelas horas trabalhadas ou pelos salário que pode receber, mas pelo prazer de disseminar conhecimento, de conhecer pessoas diferentes e isso me ajudou muito nos trabalhos posteriores. Se este não for um prazer, sinto em antecipar más notícias, mas da carreira de instrutor não se pode extrair muito mais que o prazer de descobrir o novo, a presença na sala de aula e o contato com os alunos.

A partir de 2012, por desalinhar o meu propósito com o que a escola estava se transformando, e pelas possibilidades que outras atividades me demonstravam, decidi seguir em outras áreas. Mas quem é professor uma vez, sempre será, são as perguntas dos alunos sempre fazem você pensar de uma nova forma. E digo mais, a melhor forma de aprender algo bem, é se dedicando a ensinar a alguém, ensinar te coloca em uma posição onde várias partes da mente atuam juntas, muito mais que ler um texto ou assistir um vídeo.

2018 e além…

No fim de 2018 fui convidado a ministrar um treinamento de WordPress, plataforma que trabalho há 10 anos, em algumas turmas pela Cadritech, e como disse aprendi ainda mais sobre WordPress, por quê? Pelo simples motivo, alunos fazem a gente pensar de uma forma completamente diferente, estes são os verdadeiros pesquisadores.

Uma dica final

Ser instrutor de informática, é uma ótima forma de começar e no começo não entendi porque a professora que me colocou estava deixando a escola. Seja intencional, use a profissão de instrutor como uma ferramenta de para aprender mais com o modo de pensar dos alunos, para pesquisar e trocar conhecimentos, para conhecer pessoas e da reputação de professor dar novos passos.

Encerro este texto com frase de um dos maiores educadores brasileiros, Paulo Freire:

Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes.

Paulo Freire

3 comentários em “Instrutor de Informática, um relato da minha experiência e carreira”

  1. Henrique Tavares

    Olá, é bastante agradável sua história eu gostaria de saber muito o que eu faço para iniciar minha carreira como instrutor de informática básica e avançada?
    sendo que as coisas são diferentes.
    Porque eu não sei realmente o que cai na prova de capacitação, eu queria coisas bem detalhadas, você poderia me ajudar?

    Agradeço!
    Bom dia, Feliz Páscoa.

  2. Olá, Raphael tudo certo? Enquanto eu lia o que você escreveu sobre toda sua carreira e como tudo foi acontecendo, eu me encontro aqui nesta cadeira, dentro da sala de aula ministrando indiretamente como instrutor. Mas como assim indiretamente? Pois então os alunos, das mais variedades idades, chegam no local e já tem suas horas e os aprendizados marcados. Cabe a eles acessarem suas aulas e assistirem, tudo de fone. Já eu fico mais como um auxiliador, principalmente com as senhoras de idade. A minha função na maior parte do tempo é ajudar com problemas pequenos, como um fone mal-colocado, ou que não pega, uma tecla que falhou, ou até msm o software que trava, com os cursos do aluno, e aí, que mesmo em treinamento eu tenho algumas dificuldades, apesar de ter sido contratado como instrutor sem nenhuma experiência. Somente com um técnico em Informática provido pela mediotec/pronatec/faetec focado mais em programação. O word e o excel que eu aprendi foram pouquissimas aulas e pouquissimas ferramentas que mexidas, sem falar que eu me formei há mais de um ano, e nesse hiato fiquei parado. Para resumir mais friamente, no meu primeiro emprego eu assumi como instrutor, e aqui nesta mesma cadeira fui pesquisar sobre o que realmente é ser um instrutor, o que faz e principalmente o quanto ele domina, contrastando com o meu conhecimento básico. Se puder da uma sugestao de cursos pra eu fazer, algumas dicas, poder me tranquilizar hahaha, e o principal: de ter dominio sobre as ferramentas usadas, já que eventualmente problemas surgirão e querendo ou não eu sou professor, ficaria muito grato. Boa noite amigo

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